Crítica ao vivo v.1

No âmbito do <IMG>, projeto de Camilla Rocha Campos e Daniel Bardusco, realizado na Casa Daros, Rio de Janeiro. Agosto-setembro de 2014.

Com participação de Jarbas Lopes, Juliana Gontijo, Roberta Condeixa e Deborah Engel.

Sobre <IMG>

EDIÇÃO 1 

“Toda linguagem tem uma estrutura sobre a qual não se pode dizer nada nessa linguagem. Deve existir outra linguagem que trate da estrutura da primeira e possua uma estrutura diferente, sobre a qual não se pode dizer nada, salvo em uma terceira linguagem.”

(Bertrand Russell)

“A vida é efêmera, por que a arte não pode ser?”

(Paulo Bruscky)

Na primeira edição da revista <IMG>, o motor das ações é a produção incessante de conhecimento. As seções, em suas diferentes linguagens, exploram as relações de produção, renovação e circulação de conhecimento, discursos, falas sobre falas, que se sobrepõem, se contradizem, e se impõem. A linguagem pensada em diversas linguagens. Sem passos seguros, mas escolhendo um caminho.

SEÇÃO 1: Editorial

Ação: PESSOAS COMPENETRADAS ME ASSUSTAM

Nesse ambiente, que é uma espécie de lounge, várias revistas, jornais e livros estão empilhados próximos a sofás. Naturalmente, algumas pessoas do público estarão sentadas ali, folheando alguma revista, esperando algo começar ou descansando. Em determinado momento, uma mulher se senta apressadamente, se acomodando, sem dar muita atenção para quem está do seu lado. Ela pega um livro e, muito séria, começa a folhea-lo e fazer anotações. “Só um minuto, ok? É importante” – é tudo o que ela diz. Logo, outra pessoa, seguindo o mesmo espírito da mulher, faz a mesma coisa. E outra pessoa se junta a eles. E outra. E mais outra. Um grupo de pessoas compenetradas lendo, e fazendo anotações, vai chegando e impondo sua força como grupo. Tal grupo vai expulsando as pessoas que ali estavam sentadas anteriormente, ocupando a área dos sofás e os arredores. Eles estão no direito, pois se você não está fazendo nada importante (sério, útil), deve dar lugar para alguém que está. Se olharem com atenção, no entanto, verão que algumas das pessoas compenetradas, estão lendo livros de cabeça para baixo ou fazendo anotações sem sentido ou simplesmente olhando para o livro e não escrevendo nada. Ao final dos 10 minutos, um a um, seguindo a ordem de chegada, vão se retirando. Deixando os sofás vagos novamente por 10 minutos.

A ação pretende trabalhar o espaço que as pessoas ocupam no local. Os performers ao pedirem licença para se sentar ou esbarrando ou ao irem se enfiando no local estão se apropriando do espaço e obrigando o público a reagir àquela nova situação espacial. Talvez até prejudicando o campo visual daqueles que querem ver outra ação ou um vídeo.

A ação, de maneira irônica, também nos faz questionar a “seriedade” no comportamento das pessoas, além da qualidade da informação que estão consumindo e a maneira como esta está sendo assimilada.

SEÇÃO 2: Refeitos em revista

Ação: EQUIVALENTS

Remontar em 10 minutos um dos trabalhos da série Equivalents de Carl Andre, de 1966. Os trabalhos consistem no arranjo de 120 tijolos refratários de 8 formas diferentes. Em uma hora, serão executados 6 trabalhos com os mesmos tijolos. Será seguido rigorosamente o plano de montagem do artista.

SEÇÃO 3: Entrevista 

Ação: A MESMA PERGUNTA A CADA VEZ

Um convidado é entrevistado ao vivo durante 10 minutos. Ao fim deste período, o entrevistador repete as mesmas perguntas, e o convidado as responde como quiser. A entrevista que é refeita ao vivo.  A possibilidade de reajustar idéias e palavras, 6 vezes.

SEÇÃO 4: Artista Convidado

Ação:  Sobreposição, acúmulo, imagem

 Nesta edição um artista construirá em tangencia com o tema da edição 1 de <IMG>  um trabalho que deverá, assim como todas as demais seções, ser construído e refeito de 10 em 10 minutos.

SEÇÃO 5: Crítica Ao Vivo

Ação: CRÍTICA AO VIVO

O crítico-historiador escreve, em seu laptop, a crítica às ações que acontecem a sua volta. Enquanto digita, o conteúdo da tela do computador é projetado em uma das paredes do bar. Ao final de 10 min, ele apaga sua crítica e começa a escrever um novo texto sobre outra seção. Em determinado momento ele escreve sobre sua própria ação. O crítico faz a cada escrita o movimento de afastamento e aproximação do seu pensamento tal qual ele se dá. O tempo real da ação e da escrita, o crítico-historiador como o pára-raios que conduz a atitude ao público no formato temporário de sua escrita.

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